Seres alienígenas de outro planeta chegaram à Terra e estão aniquilando a humanidade com suas máquinas de guerra super avançadas, visando a nossa destruição e a nossa escravização! Isso te lembrou alguma história? Tenho certeza que sim, afinal, já vimos esta trama em diversas mídias e explorada das mais variadas formas, seja em filmes, séries, animações, quadrinhos ou jogos, inclusive na literatura. Pode parecer uma premissa um tanto quanto clichê, mas para os ávidos leitores de 1987, “A Guerra dos Mundos” foi um dos maiores marcos da literatura e uma grande virada inovadora para a ficção científica, sendo talvez o primeiro livro a narrar uma história de invasão alienígena de maneira tão descritiva, além de ser uma clara crítica à sociedade europeia da época.
Escrito entre 1985 e 1987 pelo escritor inglês Herbert George Wells (famoso também pelos clássicos “A Máquina do Tempo” e “O Homem Invisível), “A Guerra dos Mundos” é um romance de ficção científica que narra do ponto de vista de um narrador em primeira pessoa (que não tem o seu nome revelado) uma invasão marciana hostil à Inglaterra do século XX, e sua jornada por várias cidades da Inglaterra enquanto tenta voltar para a sua esposa – que ele enviou para Leatherhood para protege-la – e fugir da destruição dos marcianos.
Na história, através dos olhos do protagonista e se outros personagens (como seu irmão e colegas), vemos como uma chuva de estrelas cadentes inusitada rapidamente se torna um pandemônio generalizado causado pelos seres marcianos, que são dotados de uma incrível tecnologia que usam com o intuito de exterminar a raça humana. Em certo ponto do livro, eles se erguem sobre suas maiores armas, os famosos “Tripods”, e começam a sua missão de extermínio e destruição, vagando de cidade em cidade e chegando a passar até mesmo por Londres.
Apesar de ter uma história “simples” para os moldes atuais, “A Guerra dos Mundos” entrega diversos comentários sociais que são relevantes até mesmo hoje, mais de 100 anos após a publicação do livro.
Mas... eu pensei que era um livro de invasão alienígena! Que críticas são essas?
Como dito acima, apesar de ter uma trama simples, fica claro com o decorrer dos eventos as críticas que o autor transcorre de maneira nada sutil até, embora bem pertinentes para o cenário da época.
Para um pouco de contexto, no momento de sua publicação, a Inglaterra era uma potência mundial, sendo um país colonialista e imperialista. Com uma invasão marciana de grandes proporções como a descrita no livro, o autor inverte os papéis e coloca sobre o orgulho dos ingleses a ameaça de se sentirem como presas diante da violência destes alienígenas, sem qualquer chance de se defenderem contra as armas dos invasores que não demonstram remorso em nos atacar.
Não apenas isso, como H.G. Wells também toca no Darwinismo social através da imposição destes alienígenas sobre nós, que chegam até nós e se põem como uma raça superior à nossa, sendo muito mais avançada no processo evolutivo. Durante o livro, inclusive, existem descrições minuciosas – embora o próprio narrador assuma não ter tanto poder de fala para poder explicar de forma mais concreta e científica – da própria anatomia destes seres de Marte e como a sua aparência, organismo e raciocínio podem ter uma origem muito mais próximas da nossa do que pensamos, apesar das diferenças grotescas entre eles e os humanos. Tudo isso no fim acaba sendo uma grande colaboração à Teoria Evolutiva de Darwin.
E qual foi o impacto que “A Guerra dos Mundos” teve para a ficção científica?
Como eu disse antes, o livro praticamente foi a primeira tentativa de contar como seria uma possível invasão de alienígenas ao nosso planeta! Apesar de haver muitos elementos presentes em diversas obras já famosas, devemos lembrar que não havia nada parecido até então em 1987.
Ele marcou o início da literatura de invasão alienígena na ficção científica, o que acabou rendendo a H.G. Wells o título de “pai da ficção científica moderna”. E não é pra menos, não é? Afinal, ele foi o responsável por criar muitas coisas que são utilizadas até hoje na ficção e na maneira como enxergamos esse tipo de história.
Falando mais sobre as principais armas dos marcianos na história: os Tripods. Os Tripods são uma das figuras mais icônicas da cultura pop atualmente e no livro são descritos como tripés biomecânicos gigantes, com uma cabine do tamanho de uma casa sobre o topo, e munidos de tentáculos com garras, névoas de vapor venenoso e um laser incinerador – que, curiosamente, o autor chama de “raios de calor”, afinal, o conceito e o nome “laser” não existiam na época – que era capaz de aniquilar seres vivos e destruir casas em segundos, destruindo tudo em seu caminho.
É interessante de se pensar que os tripods, em uma época tão remota assim, possa ter servido de inspiração para os famosos robôs gigantes pilotáveis. Quem dirá se hoje teríamos os Megazords e robôs mecha japoneses da forma como conhecemos sem o toque de H.G. Wells e sua invasão alienígena no século XIX?
Ah, não gosto de ler. Vou esperar sair o filme.
Tudo bem, seu pequeno preguiçosinho! Seus problemas acabaram, pois “A Guerra dos Mundos” recebeu diversas adaptações desde a sua publicação, como podemos ver abaixo.
Programas de rádio, quadrinhos, filmes e séries foram produzidos, embora nem sempre a história do livro tenha sido levada para as suas adaptações, a ideia central da invasão dos marcianos em grandes tripés pilotáveis se mantém em – pelo menos – grande parte dos itens.
Talvez o mais famoso e conhecido do público seja a adaptação de 2005, dirigida por Steven Spielbierg e estrelada por Tom Cruise, que traz os elementos da história para uma visão mais modernizada e atual dos eventos do livro, embora traga diferenças de trama, personagens, críticas e resoluções. Mas isso é uma história para outro momento, quando tivermos tempo para explorar essas adaptações como se deve ser!
Uma curiosidade um tanto quanto bizarra: a primeira adaptação em rádio de “A Guerra dos Mundos” aconteceu em 1938, narrada e produzida pelo futuro cineasta e xará do autor: Orson Wells. A produção trazia os eventos do livro e os inseria dentro do contexto norte-americano, e foi responsável por causar um pequeno pânico aos ouvintes da rádio daquela época.
A história, aparentemente fora tão bem produzida que todos os ouvintes que pegaram o bonde andando simplesmente acreditaram que havia uma invasão alienígena acontecendo em solo americano!
E quais são as suas opiniões finais sobre o livro?
Ademais, “A Guerra dos Mundos” é um romance que me causou uma sensação muito positiva enquanto eu lia e me aprofundava ainda mais nos eventos. Por ser uma história escrita há mais de um século atrás, a escrita causou um pequeno desconforto em mim, talvez pela forma como o autor acaba sendo muito descritivo em diversos momentos do livro, embora ainda seja bem direto para seguir com os eventos em um formato de capítulos curtinhos, o que deixa a leitura bem rápida! Posso dizer que foi uma experiência incrível de se ler e assim que você imerge nela, quer ver até onde vai com curiosidade.
Nós seguimos juntos do protagonista e acompanhamos a sua árdua viagem pela Inglaterra caótica enquanto ele busca não sucumbir à insanidade de toda aquela situação, e talvez sejam estes os momentos em que o livro brilha demais para mim. No fim, não é a invasão em si que nos cativa, mas a forma como os personagens tentam lidar com aquela loucura em meio à destruição ao seu redor.
Contudo, apesar de focar bastante no psicológico e nas reflexões dos personagens, estes também não tem tanto destaque de forma individual, se vendo apenas como elementos que reagem aos invasores em seu ataque.
A humanidade, arrogante e prepotente, é colocada neste livro como apenas uma existência minúscula entre várias no grande universo que a cerca, e tem os limites testados diante de uma catástrofe sem igual. A loucura, o desespero e o abandono da sanidade em prol da sobrevivência são muito bem contadas por Wells, que, usa de cidades e locais em que ele mesmo viveu e conheceu para aprofundar os leitores na obra, a ponto de que é muito fácil de imaginar que uma situação como aquela tenha acontecido.
A conclusão do livro talvez seja um pouco inesperada para aqueles envolvidos demais na invasão dos marcianos, tanto para bom quanto para mal. Pode não ser o final ideal para todos, mas em minha opinião pessoal, é um desfecho que intriga e te atinge da mesma forma como atinge o protagonista quando ele chega, e abre espaço para as reflexões conclusivas do autor, que por fim encerra a sua guerra dos mundos com um tom quase deprimente, embora esperançoso à sua própria maneira.
Muito bom !
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