A terceira temporada de Turma da Mônica Jovem, lançada como parte da evolução da franquia que acompanha os personagens clássicos de Mauricio de Sousa em sua adolescência, prometia ser um marco na expansão do universo da Turma.
No entanto, o que se observa é uma queda significativa na qualidade que antes elevou a série a um patamar de destaque entre os fãs e novos públicos. Esta crítica busca apontar os principais problemas de forma linear e construtiva, destacando o que funcionou mal, inserindo o contexto da grandiosa obra de Emerson Abreu, a Super Saga do Fim do Mundo, e sugerindo caminhos para uma possível recuperação.
O primeiro ponto que salta aos olhos é o roteiro. Historicamente, Turma da Mônica Jovem nas HQs equilibrava bem o humor leve, os dramas adolescentes e a essência dos personagens clássicos. Na terceira temporada, porém, as tramas se tornam excessivamente didáticas e previsíveis, com diálogos que soam forçados e desprovidos da espontaneidade que caracterizava a Turma. Comparado à Super Saga do Fim do Mundo, escrita por Emerson Abreu, o contraste é gritante. A Super Saga, uma das obras mais ambiciosas e celebradas da revista Turma da Mônica Jovem, trouxe uma narrativa épica e complexa, inspirada no Apocalipse bíblico, com arcos como Sombras do Passado, Umbra e Herdeiros da Terra. Emerson conseguiu entrelaçar terror, mistério e desenvolvimento profundo dos personagens, criando uma lore rica que elevou o padrão da série. Já na terceira temporada animada, os conflitos adolescentes, que poderiam explorar temas como identidade e amadurecimento com a mesma ousadia, são reduzidos a clichês de comédias românticas genéricas, sem oferecer camadas ou reflexões que engajem o espectador.
Outro aspecto problemático é a caracterização dos personagens. Mônica, Cebola, Cascão e Magali, que sempre foram definidos por traços marcantes e personalidades cativantes, aparecem aqui como versões diluídas de si mesmos. Mônica, antes uma líder determinada e carismática, muitas vezes é retratada como uma figura genérica, enquanto Cebola perde o brilho de seus "planos infalíveis" para se encaixar em arquétipos adolescentes sem graça. Na Super Saga, Emerson demonstrou maestria ao preservar e até ampliar essas essências: Mônica enfrentava dilemas existenciais, Cebola lidava com o peso de escolhas apocalípticas, e personagens secundários como Denise e Xaveco ganhavam profundidade inédita. A saga apresentou vilões memoráveis como Penha (o Cavalo Vermelho da Guerra) e a Jumenta Voadora (o Cavalo Pálido da Morte), além de explorar a mitologia do Capitão Feio de maneira inovadora. Na terceira temporada, essa falta de fidelidade às suas essências originais aliena tanto os fãs de longa data quanto os novos espectadores, que não encontram motivos para se conectar emocionalmente com a Turma.
A direção artística e a animação também deixam a desejar. Embora a terceira série das HQs tenha introduzido um novo estilo visual mais moderno, a adaptação animada não parece acompanhar essa evolução com consistência. Há momentos em que a animação parece apressada, com movimentos pouco fluidos e reutilização de cenas que denunciam um orçamento ou planejamento aquém do esperado. Isso compromete a imersão, especialmente em uma obra que já esteve associada a um padrão de qualidade elevado. Em contrapartida, a Super Saga do Fim do Mundo nas HQs, mesmo sendo estática, usava o traço e a composição visual para intensificar o clima sombrio e épico, algo que a animação da terceira temporada poderia ter buscado inspiração para enriquecer sua narrativa.
Pontos Construtivos para Melhoria
Apesar dos problemas, há espaço para recuperação. Primeiro, seria essencial resgatar a essência dos personagens, permitindo que suas personalidades únicas guiem as histórias. Um foco maior em roteiros que combinem humor, emoção e aventuras simples, mas bem executadas, poderia devolver o charme da série. Por fim, uma estrutura narrativa mais enxuta, com arcos bem definidos e resoluções impactantes, traria de volta o dinamismo que a Turma merece.
Turma da Mônica Jovem é uma obra com um legado rico e um público fiel, mas esta terceira temporada reflete uma decadência que não condiz com sua história – especialmente quando comparada ao brilho da Super Saga do Fim do Mundo. Com ajustes cuidadosos, ainda há esperança de que a série recupere seu lugar como um ícone cultural que atravessa gerações. Por ora, however, ela fica aquém do brilho que a manteve em alta por tanto tempo.